Publicado em 3 de agosto de 2018
Estilistas e marcas criam produções sem desperdício para se adaptar a um novo paradigma
Você sabe como foi produzida a roupa que você está no seu corpo agora? Ela é feita de quais tecidos? Eles são biodegradáveis? Os direitos das pessoas que trabalharam na fabricação foram respeitados? Nem sempre é possível responder. Na indústria em massa da moda, que busca produzir o maior número de peças e estimular o consumo exagerado, essas informações não chegam ao consumidor. Porém, existem vários movimentos e iniciativas que buscam criar uma moda mais ética e sustentável.
Esse é um dos temas mais discutidos na indústria da moda, que busca alternativas. Movimentos como o slow fashion, que foca em criar peças de qualidade, sustentáveis e sem consumo excessivo, e o fashion revolution, que busca transparência no processo de produção e condições justas para todos os trabalhadores entraram na pauta e hoje são tratados dentro dos cursos de formação, como no curso de Design de Moda do Centro Universitário IESB.
“Existe agora um paradoxo a se resolver”, afirma a coordenadora do curso, professora Clarice Carvalho Garcia. “A moda é movida pelo consumo, e ela também é, por definição, mudança. A gente tem visto que a indústria precisa se repensar, e entendemos que não há ainda uma resposta sobre como fazer isso”, continua a professora.
Segundo Clarice, não é mais possível continuar a se produzir artigos de moda sem a preocupação com os recursos utilizados e pessoas envolvidas. A indústria de massa vai perder espaço e o consumo vai diminuir.
Por isso, é preciso explorar novos caminhos, como fez Sávio Drew. O estilista, formado em 2017 pelo curso de Design de Moda do IESB, usou suas experiências pessoais para criar uma marca, a Drew, que produz seus artigos com transparência no processo de criação e sem desperdício.
“Eu vim de uma vila no interior do Piauí, e lá se tem um respeito muito maior com a natureza”, disse Sávio. “Quando eu vim para a cidade, eu me assustei muito com esse processo industrial. Eu quis criar uma marca mais humana, com produtos feitos à mão, e mostrar os nossos processos. A ideia veio também de uma viagem que eu fiz para São Paulo. Eu vi uma pilha de tecidos, perguntei o que era aquilo, e me falaram que eram tecidos que seriam descartados.”
A Drew segue o princípio de upcycling, que pega materiais que seriam descartados e os transforma em novos produtos. No caso da marca, ela cria suas roupas com os tecidos que são descartados pelas indústrias, por estarem com algum defeito ou uma mancha. Isso não é problema para Sávio, que incorpora essas manchas no design de suas peças.
“A preocupação é gastar o menos possível na produção, e não gerar desperdício”, disse o estilista. “Estamos trazendo uma nova coleção agora que aproveita 100% do tecido. Nós desenhamos a roupa em cima dele. Trazemos também as questões socioculturais, temas do Norte e do Nordeste. O Brasil é muito rico e devemos protege-lo”, continua.
Sávio Drew fará parte do evento E-ditando Moda Sustentável, que acontece entre 3 e 12 de agosto na Bienal Internacional do Livro, em São Paulo. A iniciativa trará profissionais do Design para falar sobre temas da sustentabilidade e consumo consciente aplicados desde a moda até a construção. A história do estilista, que participará do bate-papo no dia 5 de agosto, também estará no livro Guia de Design Consciente, cujo lançamento acontece durante a Bienal.
Para Clarice, essa busca pelo sustentável faz parte de um movimento muito maior. “Quando vemos a sustentabilidade sendo buscada em vários setores, a moda também entra nesse pensamento. É algo que não dá mais para ignorar. Precisamos ver a sustentabilidade como um novo paradigma, e não mais como uma opção”, disse a coordenadora.
Serviço – E-ditando Moda Sustentável
Data: de 3 a 12 de agosto
Participação de Sávio Drew: 5 de agosto às 14h
Local: 25ª Bienal Internacional do Livro
Pavilhão do Anhembi – Av. Olavo Fontoura 1209
Santana, São Paulo, SP