Demissões em massa nas Big Techs: economista explica as situações e projeta futuro

Publicado em 1 de fevereiro de 2023

As Big Techs, grandes empresas do ramo de tecnologia que têm dominado o mercado nos últimos anos, viram a demanda por seus serviços aumentarem exponencialmente durante a pandemia de covid-19. Com esse aumento na demanda, iniciou-se um ciclo de contratações frenéticas, em que essas empresas chegaram a quase dobrar seu quadro de funcionários.

Com a flexibilização das medidas e as pessoas retornando suas vidas para dentro da normalidade, a demanda retornou ao patamar anterior e as empresas viram suas receitas caírem.

Ao mesmo tempo, o FED, banco central americano, anunciou um aumento na taxa de juros para 4,5% a.a, o que indica o início de um período de recessão econômica e liga um sinal de alerta para grandes companhias. 

Riezo Almeida, professor e coordenador do curso mercado financeiro de capitais do IESB, recomenda a análise da ação chamada IVVB11, que é composta de grandes empresas dos Estados Unidos na área de tecnologia.

“Essa ação mostra bem o que está acontecendo atualmente. É um ciclo. No início da pandemia, esse título estava valendo no mercado internacional o equivalente a R$ 150 e atualmente vale R$ 224. Já chegou a estar quase com 100% a mais do valor e está em queda atualmente”, explica.

Para tentar equilibrar as receitas e se manter no mercado, as empresas do ramo tecnológico oficializaram a demissão de 159 mil funcionários em 2022. Entre elas estão quatro das Big Five, as maiores empresas americanas de tecnologia: Alphabet, Amazon, Meta e Microsoft. 

A Apple, última empresa restante dos chamados Big Five, ainda não entrou na onda das demissões em massa. 

O professor Riezo acredita que um dos fatores que têm blindado a empresa de sofrer os efeitos do aperto econômico é que sua política tem foco no consumidor final, dependendo pouco de ações do governo ou de outras empresas adquirirem seus produtos e serviços.

Além disso, o docente ressalta a importância da estratégia financeira da gigante tecnológica.

“Isso se deve ao fato de a Apple ter uma estratégia financeira sólida e ao fato de a empresa ter uma base de clientes fiéis que continuam comprando seus produtos. Além disso, a Apple tem uma grande quantidade de dinheiro em suas reservas, o que lhe permite manter seus funcionários mesmo durante períodos de incerteza econômica”, destaca Riezo Almeida.

Em 2023, o cenário não é muito animador. O consenso entre os principais economistas do mundo é de que há uma recessão a caminho, e até o momento da publicação desta matéria, já houve mais 75 mil demissões de acordo com o site layoffs.fyi, quase metade do total de demissões no ano de 2022.

É possível também que essas demissões ocorreram com o intuito de forçar uma redução salarial, visto que a categoria é uma das mais bem pagas do mercado atualmente. 

O coordenador Riezo Almeida pontua: “Muitos trabalhadores perderam seus empregos e a procura por novas oportunidades de trabalho aumentou, resultando em uma concorrência mais acirrada por vagas e possíveis reduções salariais”. 

Esse cenário de demissões em massa pode chegar ao Brasil? De acordo com o professor, sim. “Os trabalhadores serão afetados tanto no exterior como no Brasil. Todo o setor de tecnologia está demitindo em massa e isso reflete no fluxo de renda que chamamos na economia, isto é, com menos renda, a economia local não cresce como deveria”. 

Os profissionais que não são da área da tecnologia, devem se preocupar que essa onda de demissões os atinja também? Para Riezo, no momento, nada indica que outras áreas profissionais devem ser afetadas. “Quem entra agora na parte de tecnologia já entra pressionado, na verdade. Entra pressionado para que seja um um bom profissional, cada vez mais tendo em vista que só os melhores estão ficando. Agora, se não for da área de tecnologia diretamente, não tem que se preocupar”, conclui Riezo. 

Por Iago Victor Leite

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