Estudantes de Enfermagem na luta contra o Covid-19

Publicado em 15 de julho de 2020

Três estudantes do curso que estão na linha de frente do combate falam sobre suas rotinas e desafios nos hospitais

A pandemia mundial fez com que estudantes da área da saúde mergulhassem mais intensamente na profissão antes mesmo da conclusão do curso. Por meio de decreto nacional, os discentes do último ano dos cursos de medicina, nutrição, fisioterapia e enfermagem, de todas as instituições de ensino do Brasil, foram convidados a trabalhar na linha de frente do novo coronavírus em decorrência da falta de profissionais nos hospitais.

Setenta alunos do curso de Enfermagem do IESB entraram nessa lista e começaram, no início de junho, um dos maiores desafios de suas jornadas. O traje tradicional dos heróis, com capas e escudos, deu lugar a máscaras, luvas, óculos e capote, usados como paramentação de proteção desses profissionais. Para a segurança desses estudantes que foram para os hospitais, o IESB disponibilizou os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), testes de covid-19 e treinamentos necessários.

Por trás das máscaras, sorrisos e medo

Estresse, medo e apreensão fazem parte da rotina diária da Grazielle Cristine Barbosa, 40 anos, da Lívia Cristina de Azevedo, 40 anos, e da Juliana Nóbrega Américo, 28 anos, estudantes do 9° semestre do curso de Enfermagem.

Elas escolheram estar frente a frente com a difícil realidade encontrada nos hospitais de Brasília. “É muito triste a situação no DF, há falta de medicamentos e equipamentos. Ver isso é muito triste. Nós tínhamos todos os equipamentos porque a faculdade nos proporcionou isso”, comenta Juliana Nóbrega.

Para elas, o dia tem hora para começar, mas não para terminar. As 24 horas são divididas entre o trabalho doméstico, as aulas da faculdade, estágio e o trabalho. Grazielle, que já trabalhava em atendimentos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), comenta que quase não tem mais tempo para ficar com a família: “No trabalho são plantões noturnos, em dois locais. Eu trabalho muito, quase toda a semana. Com o estágio, que faço a tarde, eu estou ficando menos ainda em casa com minha família”.

A estudante está estagiando na ala dos pacientes estáveis do Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Além dos cuidados relacionados a saúde física, Graziella se compromete também com o conforto emocional das pessoas internadas. Por terem que ficar completamente isoladas, o único contato que os pacientes têm é com os profissionais do hospital, sem visita de familiares.

Juliana Nobrega, é estagiária no pronto-socorro também do HRC. Para ela, outro grande desafio é o de conter o medo de ser infectada. No entanto, a vontade de trabalhar para que todos os pacientes sejam atendidos é algo que fala mais alto. “Nenhum de nós pensávamos que um dia viveríamos isso, nunca passou pela cabeça. Mas, se somos enfermeiros e estamos estudando para cuidar do próximo, não podíamos deixar de ver isso de perto e dar o nosso melhor em prol dos pacientes. O medo é grande, mas a vontade de ajudar o próximo é maior, com certeza”, comenta.

No fim do dia, chegar em casa é outra parte intensa. O receio de expor a família a qualquer risco é constante. As roupas são lavadas separadas, os cabelos são lavados todos os dias, nada que saiu de casa entra novamente sem passar por lavagens e higienizações minuciosas.

Lívia Cristina instalou um chuveiro no corredor de sua casa, o banho é tomado do lado de fora, essa foi a solução encontrada por ela para proteger seus familiares. Apesar de todas as inseguranças e incertezas, os aprendizados são muitos, tanto pessoal como profissional. “Muitas práticas realizadas no hospital que nunca tinha visto, estamos conseguindo visualizar de perto. Creio que para a minha carreira será muito somático ter vivenciado essa pandemia”, finaliza Lívia.

Por Isadora Mota

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