Publicado em 31 de agosto de 2020
Criado em 2006 e reeditado em 2014, o Guia Alimentar para a População Brasileira (GAPBR), lançado pelo ministério da Saúde, permitiu a difusão mais clara da balança alimentar nas casas brasileiras e, consequentemente, melhores resultados para a cultura de alimentação nos lares do país. No entanto, recentemente, o próprio Ministério da Saúde reconheceu algumas limitações no guia, principalmente no que dizia respeito à alimentação infantil. Pensando nisso, um grupo de nutricionistas e nutrólogos criou, em 2019, também com aval do Ministério, o Guia Alimentar para Crianças de até 2 anos.
Uma das representantes deste grupo, a professora associada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Luciana Maldonado, participou da live “Guia Alimentar para Crianças menores de 2 anos”, na última sexta-feira (28/08), promovida pelo curso de Nutrição do Centro Universitário IESB.
Assista à live, no canal oficial do IESB no YouTube
Confira agora a entrevista com a professora, sobre a importância deste guia para a promoção Saúde Pública
São três grupos principais, eles nos auxiliam a entender melhor o que é a alimentação saudável. São os in natura (ou minimamente processados), os processados, e os ultraprocessados. Quanto mais processado o alimento, menor a riqueza em fibras e vitaminas, e maior o grau de industrialização deste alimento.
Com isso, a gente conclui que o último grupo deve ser evitado no consumo diário. São alimentos que possuem muito açúcar e muita gordura. Isso causa prejuízo na população, à medida que o consumo ocasiona, a longo prazo, em doenças crônicas, como diabetes, obesidade e hipertensão, além de complicações destas condições, como cáries e câncer.
Outra preocupação que o guia alerta é quanto ao impacto no meio ambiente, por conta do processo de industrialização desses alimentos ultraprocessados.
Penso que a mensagem que quer passar. O Guia para crianças menores de 2 anos deixa clara a importância do aleitamento materno desde o início da vida até mesmo os primeiros anos da criança. É importante que ele seja feito de maneira exclusiva nos primeiros 6 meses, e desde então, a introdução alimentar ser feita de maneira gradual e atenciosa quanto aos valores nutricionais.
O Guia para crianças de 2 anos não só foca na alimentação infantil, mas também tenta aliar o consumo de alimentos saudáveis a toda a família. Quando você prepara seus alimentos em casa e tem uma cultura alimentar rica em legumes, vegetais, arroz, feijão, fontes de fibra, a criança absorve isso, e se alimenta da mesma forma, adequando à sua consistência. E ao fim de um ano, ela já está consumindo praticamente as mesmas coisas que a família. É mais prático, se analisarmos a longo prazo.
A alimentação, quando desenvolvida desde a infância de forma saudável e rica em valores nutricionais, traz benefícios não apenas para a saúde da pessoa, mas também para o comportamento dela. Quando o indivíduo é criança, ele pode desenvolver padrões comportamentais, sejam eles quais for. Ao estimularmos um comportamento saudável desde a infância, o indivíduo ganha autonomia para suas escolhas alimentares e evita, assim, cair na onda de consumismo e de ser influenciado por publicidade de alimentos, que muitas vezes vende produtos que parecem, mas não são saudáveis.
O guia apresenta 12 passos para auxiliar a alimentação dessas crianças. Vai desde a amamentação frequente até os 2 anos ou mais, até a importância do zelo para que o momento da refeição seja prazeroso para a criança e um evento de comunhão entre os membros da família. Pense comigo: parece difícil, mas o estímulo às memórias positivas facilita que a criança se alimente bem.
Também é importante prestar atenção aos sinais de fome e saciedade da criança, e conversar com ela sempre. É comum que os pais tentem forçar a criança a comer demais ou não prestem atenção às quantidades. É importante estar atento a isso. A criança tem capacidade de regular a ingestão de alimentos, pois ela só come de fato quando está com fome, diferente de nós adultos.
A proposta é que o guia esteja conectado com a realidade das diferentes famílias brasileiras e que envolva toda a família nesse cuidado com a alimentação da criança. Não é apenas a mãe que está envolvida nesse processo.
É importante que haja neste guia informações necessárias para que haja autonomia e empoderamento para demandar políticas públicas de qualidade e que protejam a alimentação de adultos e de crianças.
Também observamos que a linguagem deve ser acessível e dinâmica, que busca interagir por ilustrações, infografias e imagens, estabelecendo um diálogo com as questões que as famílias enfrentam. Ele tenta trabalhar bastante com as recomendações e a prescrição individual. Como trabalhar recomendações para população como um todo, mas saber quais as especificidades de cada caso.
É um documento que apresenta orientações também sobre aleitamento materno e alimentação complementar em um só local. Normalmente essas indicações são feitas em locais distintos.
Atualmente doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Alimentação, Nutrição e Saúde do Instituto de Nutrição da UERJ, Luciana Maldonado atua na área de políticas públicas em alimentação e nutrição, com produção de conhecimentos relacionados a temática de Nutrição em Saúde Coletiva, mais especificamente sobre alimentação escolar, promoção de alimentação adequada e saudável, e educação alimentar e nutricional.
Por Felipe Caian Dourado