Publicado em 27 de junho de 2020
Em junho de 1969, pessoas que estavam em um bar de Nova York, comumente frequentado por gays, lésbicas, bissexual e transsexuais, iniciaram um movimento de manifestação após sofrer repressão e violência policial. O enfrentamento foi um pedido de visibilidade e segurança. O ato definiu o mês de junho como o Mês do Orgulho LGBTQIA+. As paradas LGBTs, que se tornaram símbolo do movimento e do orgulho, passaram a acontecer no mundo inteiro a partir de 1970. No Brasil, a primeira edição em 1997, em São Paulo.
Por conta da pandemia da covid-19, a festa que acontece todos os anos foi adiada em alguns países e em outros, cancelada. Aqui no Brasil, figuras públicas e grandes empresas se reuniram para fazer o movimento acontecer de forma remota, pelo Youtube. A primeira parada on-line foi realizada dia 14 de junho. A live durou mais de oito horas e teve apresentações de vários artistas. O público que geralmente enche as ruas da Avenida Paulista ocupou as redes sociais com hashtags por uma sociedade livre de preconceitos.
As histórias de aceitação pessoal e familiar não são as mesmas para todos os LGBTQIA+, mas a violência psicológica e/ou física é algo comum em quase todas. Marcos Oliveira (24), estudante de Jornalismo, começou a batalha contra a homofobia aos 11 anos de idade. Gay e afeminado, Marcos sofreu dentro e fora de casa. O estudante afirma que foi difícil quando percebeu que era diferente dos outros garotos. “ Me aceitar afeminado foi difícil. Era ok ser gay, mas tinha que ser discreto. A minha própria mãe sempre dizia que eu tinha que ter classe e não poderia sair por aí sendo afeminado demais”, lembra. A mãe é religiosa e até chegou a levá-lo para cerimônias. “Fui obrigado a ir em cultos de libertação”, afirma.
Débora Mesquita Mendes (27), estudante do curso de Jornalismo, guarda na memória a dificuldade de assumir para si mesma que não gostava de meninos. “Eu me forçava a ficar com meninos e não era confortável pra mim”, declara. O “anúncio” para a família aconteceu depois que Débora se convenceu de que a atração era por meninas. A estudante conta que mesmo morando na mesma casa com a mãe, as duas ficaram três meses sem se falar. Hoje, Débora mora com a noiva, tem o apoio e a aceitação da família, mas afirma que andar nas ruas ainda a deixa insegura, “Em alguns lugares eu solto a mão da minha noiva, principalmente, quando está a noite e estamos sozinhas”, revela.
Yousefe Zaim Sipp Santos (20), estudante de Jornalismo, chegou a fazer quatro anos de artes marciais para se defender nas ruas. Depois de Yousefe ser agredido por um homem desconhecido e ofendido com diversos xingamentos, o pai decidiu que o filho precisava fazer um esporte para autodefesa. “Rolou uma conversa muito simbólica que ele falou – filho, sexualidade não define caráter, nem de hétero, nem de gay. É importante você saber se defender-”, conta. Para ele, o processo com a família foi mais fácil porque, segundo Yousefe, outros parentes já tinham se declarado homoafetivos. “Nesse sentido eu me considero muito privilegiado, por ter tido esses exemplos na família, de pessoas LGBGTQIA+, e assim não precisei me “assumir”, explica.
Youssef considera ainda que o mês de junho se tornou um mês importante para dar voz aqueles que historicamente foram marginalizados, “É essencial para quem é LGBTQIA+ se sentir parte da sociedade, sentir que tem voz e espaço”, afirma.
Para Rayan Milhomem (28), egresso do curso de Publicidade e Propaganda, o Mês do Orgulho é, sobretudo, momento da população refletir sobre o preconceito e tentar mudar as desigualdades enfrentadas pela comunidade. “É importante termos um movimento intensificado assim, porque nos dá visibilidade, e nos mostra quem realmente está do nosso lado. Mas, essa luta deve ser forte e constante em todos os 365 dias do ano”, argumenta.
Camila Saldanha (20), estudante de Jornalismo, destaca que muitas das letras ainda não alcançaram visibilidade e que ainda há um longo caminho até a igualdade e, por isso, é importante se manter focado no objetivo até que todos sejam vistos. “A luta continua e esse mês representa que estamos firmes para continuar”, finaliza.
Por Isadora Mota
Com informações de Vitórian Tito e Felipe Caian Dourado