Mulheres jogam mais videogame que homens, mas são minoria na área de desenvolvimento

Publicado em 24 de janeiro de 2020

Censo indica que comunidade feminina representa apenas 38% das desenvolvedoras de jogos digitais no Brasil; conheça história de mulheres que sonham em ser grandes criadoras de jogos

A cada dia que passa, pode-se notar a ascensão dos jogos digitais na vida das pessoas. Não só como uma forma popular de diversão, mas também como uma área de trabalho e projeção profissional. No Brasil, a maior parte dos jogadores é formada por mulheres. Segundo levantamento da ESPM, elas representam 53% dos consumidores de games no país. Ainda assim, elas são minoria enquanto desenvolvedoras. O último Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, elaborado pelo antigo Ministério da Cultura, apontou que de 2014 para 2018, a presença do sexo feminino no mercado de desenvolvimento de jogos aumentou 38%. Mesmo com a alta, elas ainda não chegam à metade do número de desenvolvedores.

O sonho de fazer carreira nesse mercado, contudo, está longe de morrer. No curso de Jogos Digitais do Centro Universitário IESB, existem alunas que desejam se tornar desenvolvedoras de games e buscam inspiração em outras mulheres para superar as barreiras. Para a estudante do IESB, Milena Rocha, de 19 anos, o sucesso da desenvolvedora Ana Ribeiro, da ARVORE Immersive Experiences, de São Paulo, aponta para futuro promissor do sexo feminino na profissão. “Com criação própria, a Ana ascendeu ao mercado e conseguiu destaque no setor de realidade virtual. Mas, no geral, ainda acho que somos subjugadas, como se pensassem que produzimos menos ou com menos qualidade do que os homens”, lamenta. Uma estratégia para mudar esse cenário, segundo a jovem, é garantir um amplo portfólio. Para ela, isso facilita a adesão no mercado.

Milena avalia que o fato desse ambiente de trabalho ser majoritariamente ocupado por homens faz com que as mulheres se sintam menos à vontade para trabalhar. “Imagine você sendo uma garota de 19 anos, 1,60m de altura, trabalhando em uma sala fechada com seis homens. É um cenário um pouco assustador. Isso somado à pressão de sempre ter que fazer mais para provar ser merecedora de estar ali”, explica. Milena conta que, para garantir seu conforto no emprego atual, optou por trabalhar de casa.

Existem outros exemplos de mulheres que se destacaram no cenário de desenvolvimento de games. Uma das franquias mais bem sucedidas da companhia de jogos Ubisoft teve sua produção coordenada pela desenvolvedora Jade Raymond. Ela foi responsável pela criação de uma série de jogos chamada “Assassin’s Creed”, que vendeu pelo menos 73 milhões de cópias, segundo levantamento da própria Ubisoft. Hoje, ela é considerada uma veterana no mundo dos jogos e, em 2019, anunciou o ingresso na empresa Google, como Vice-presidente. A expectativa é que Jade coordene o Google Stadia, console para games da gigante de buscas.

Mais interesse

De acordo com o coordenador do curso de Jogos Digitais do Centro Universitário IESB, Felipe Costa, o interesse do público feminino por programação e desenvolvimento de games aumentou. “As pessoas costumam pensar que como é um trabalho que envolve lógica, seria mais para homens, mas muitas mulheres têm se interessado também”, afirma.

A situação ainda está longe de ser a ideal, na avaliação do professor. Mas, a competência das mulheres no mercado de trabalho é força motriz para a mudança e a ascensão do gênero feminino como desenvolvedoras de jogos, segundo Costa. “Elas são muito mais dedicadas e super preocupadas com os detalhes”, compartilha.

Assédio

“É bem difícil achar uma mulher que não tenha sofrido alguma agressão em jogos”, lamenta Milena. Ela conta que já foi agredida “várias e várias vezes”. “Já calejei, e acho até graça de vez em quando. É tão sem noção quando fazem isso, só dá para rir mesmo”, ironiza. Milena já tentou se apresentar com nomes de identificação masculinos em jogos para tentar fugir da atitude tóxica dos demais jogadores, mas a “imunidade” acabava assim que ela iniciava o chat de voz. “Você entrar no jogo pra ser ignorada, xingada, ofendida não é tão legal, então às vezes nos disfarçamos”, conta.

Além disso, ela aponta que existem jogadores homens que, ao descobrir a presença da mulher na partida, pedem fotos ou telefone. Para ela, a união dos jogadores é a melhor forma de se combater esse tipo de atitude. “Se vemos alguém sendo preconceituoso podemos nos unir e reprimir essa atitude. Ser ofendido e ficar calado não ajuda. Não podemos dar palco para nada que vá fazer o outro se sentir mal, isso pode ser prejudicial. Precisamos resistir e mostrar que estamos nos jogos e em grande volume”, recomenda.

Por Profissionais do Texto

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