Publicado em 9 de abril de 2021
Em uma sociedade onde ainda é difundido como padrão de beleza a pele clara e o cabelo bem alinhado, carregar um black power é sinônimo de resistência, identidade e amor próprio, é o que declaram as alunas do curso de Serviço Social Victoria Karoline Brandão, 20 anos, e Amanda Barbosa, 31 anos. A pressão estética, resultado do racismo estrutural na sociedade, esmaga a população preta, criminalizando o cabelo que tanto carrega história e força. Por isso, mais do que nunca, o assunto precisa ser debatido e difundido.
Aluna do 4º semestre de Serviço Social, Victoria Karoline afirma que o debate e a representatividade são essenciais principalmente para as crianças. “É de suma importância lembrar as pessoas que o cabelo do negro, seja ele crespo, tranças ou dreads não é um cabelo feio, duro e sujo”, reforça.
Ambas frequentaram escolas particulares na infância e pela falta de representatividade nestes locais e principalmente na grande mídia, elas enfrentaram momentos de resistência quanto a assumir o crespo. Victoria compartilha que aos seis anos era a única criança a ter o cabelo black em sua sala de aula, e por isso era alvo de bullying entre os colegas de classe. No seu aniversário de sete anos, pediu de presente o tão almejado e doloroso alisamento, o qual permaneceu até os 16 anos.
Amanda, por sua vez, sempre usou tranças, mas também se submeteu ao alisamento posteriormente. As alunas caminharam rumo ao resgate da identidade e aceitação após muito sofrer com o procedimento. “Queimei várias vezes o meu couro cabeludo, até que aprendi que o respeito cabe em qualquer lugar e comecei a usufruir da diversidade que o meu cabelo me oferece”, relata a egressa em Serviço Social.
Felizmente, atualmente ambas enxergam a beleza, representação e a história que o cabelo natural carrega e certamente inspiram os que ainda sofrem pelos padrões. Amanda conta que, quando criança, tudo que queria era ter uma referência, uma mulher que ela pudesse olhar e almejar um cabelo igual. “Hoje em dia eu posso ser essa mulher na vida de outras pessoas e de outras crianças e isso é simplesmente a coisa mais importante pra mim”, afirma.
Em 2020, Layse Barros dos Santos, egressa de Serviço Social, confeccionou o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) “A ditadura dos cabelos lisos”. O artigo foi produzido com o intuito de investigar os motivos e consequências do processo de transição capilar passado por mulheres negras. A pesquisa carrega um estudo e observação sobre a relação do cabelo crespo com os espaços ocupados por essas mulheres no mercado de trabalho, sobre o contexto histórico e social que impacta a vida de pessoas negras, além de analisar a razão do processo de alisamento e processo de naturalização dos cabelos.
Por Vitória Silva